A MEDICINA INTENSIVA E A REALIDADE ATUAL: DESEQUILÍBRIO ENTRE DEMANDA E PROFISSIONAIS
A medicina intensiva tem passado nos últimos anos por vários desafios relacionados a sua própria expansão. Faltam profissionais especializados, disponibilização de leitos no setor público e privado. Além disso há uma elevação do número de pacientes que necessitam dos cuidados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) devido ao envelhecimento populacional constante evidenciado nos países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Os custos relacionados aos cuidados nas UTIs tem números exorbitantes. Nos Estados Unidos, um levantamento feito em 2005 demonstrou que cerca de 81 bilhões de dólares eram gastos anualmente nessas unidades. Esse cenário, de acordo com estudos de progressão, tende a piorar nos próximos anos. As perguntas que fazemos nesse contexto são:
  1. Teremos profissionais e expertise suficiente para acompanhar esse ritmo de crescimento do setor?
  2. Como a tecnologia pode ser usada para ajudar no avanço do setor?
  3. Como é possível reduzir custos e melhorar a eficiência?
A EVOLUÇÃO DA TELEMEDICINA NAS UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA: TELE – UTI
 
A definição básica da Tele – UTI envolve a utilização de tecnologia para prover cuidados de terapia intensiva de forma remota, a partir de videoconferência de alta definição de som e imagem, além de aparelhagem específica para transmissão de dados de monitorização em tempo real.
A telemedicina moderna aplicada na UTI ocorre principalmente em centros de monitorização, que alojam intensivistas, e enfermeiras especialistas. Essa organização representa o modelo fechado de Tele-UTI que atualmente é o tipo mais comum de serviço prestado. Nesses centros os pacientes nos hospitais remotos são monitorizados e avaliados pela equipe de especialistas num regime 24/7 ou nos períodos noturnos e finais de semana. No local, existem médicos e enfermeiros treinados nos procedimentos, porém sem especialidade em medicina intensiva.
Os resultados desse modelo têm sido surpreendentes. A tele UTI tem o potencial de prover melhores desfechos através do uso de sistemas de alerta detectando alterações fisiológicas precoces nos casos de sepse, infarto do miocárdio, e AVC, além de apresentar sistemas de ajuda para direcionar as melhores práticas , aumentando o acesso dos pacientes a intensivistas dedicados.
Diversos estudos tem demonstrado que esse modelo de cuidado em terapia intensiva tem obtido bons resultados em comparação com o atendimento convencional, e em alguns casos, com tendência a redução de mortalidade e infecções. Um trabalho publicado na revista internacional JAMA, por Lilly CM e colaboradores, revelou que o emprego da Tele-UTI, avaliada em 6000 pacientes, obteve uma redução de mortalidade significativa tanto em pacientes cirúrgicos como clínicos.  Em termos de segurança, esse mesmo estudo observou que não houve diferença em relação a diagnóstico e avaliações de prescrições presenciais ou remotas.
DESAFIOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO
 
Como qualquer grande mudança de paradigma, ou soluções disruptivas, no mundo da Tele-UTI a cultura local dita os padrões de cuidado. As relações humanas desempenham um papel extremamente importante na implementação dessa tecnologia. Numa pesquisa realizada com 72 enfermeiras especialistas em UTI, foi revelado que 79% delas acreditavam que a disponibilidade do intensivista pela Tele-UTI éra muito importante. Contudo o emprego das medidas recomendadas pelo especialista remoto alcançou apenas 50% de efetividade. Ou seja, apesar de haver uma percepção de importância da Tele-UTI, existe uma desconexão entre teoria e prática e isso pode interferir gravemente nos resultados
REALIDADE NO BRASIL
 
No Brasil a realidade não se afasta da cenário mundial. Existe um déficit grande relacionado aos profissionais treinados adequadamente para o serviço nas UTIs. A realidade da Tele-UTI ainda é incipiente, atualmente sendo utilizados sistemas para interação com outros especialistas como o neurologista. Não se tem conhecimento de uma central de serviços destinada a prestação de cuidados especializados em medicina intensiva por telemedicina.
CONCLUSÃO
Os desafios para a implementação da Tele-UTI são grandiosos. Barreiras estruturais e culturais se impõem a uma decadência do sistema público de saúde. Precisamos de fato rever os modelos de cuidados disponíveis, e identificar soluções disruptiva que possam favorecer os pacientes, os profissionais de saúde e os gestores.