A diabetes é uma doença que continua mantendo seu caráter endêmico em todo o mundo, afetando mais de 300 milhões de pessoas, e ocasionando diversas complicações clínicas altamente incapacitantes. No Brasil são mais de 11 milhões de indivíduos portadores da doença, e se estima que nos próximos 15anos esse número possa dobrar.

A retinopatia diabética afeta 25% dos pacientes com diabetes, sendo a principal causa de cegueira nessa população. Muitas vezes, a falta de conhecimento sobre o problema, além da escassez completa de profissionais especializados para esse tipo de diagnóstico e triagem, faz com que populações do interior do país sofram de forma mais significativa, levando meses até que um oftalmologista seja consultado.

Alguns estudos tem demonstrado benefícios na utilização da telemedicina na avaliação e triagem dos pacientes com diabetes, visando a identificação precoce de sinais e sintomas de retinopatia, A Teleoftalmologia, campo da telemedicina que cresce muito nos Estados Unidos e Canadá, ainda tem raízes pouco profundas no Brasil. Recentemente, uma publicação no periódico Telemedicine and E Health, uma referência na área, demonstrou que a utilização da Teleoftalmologia em comparação com a avaliação presencial do especialista não apresentou diferenças em termos de diagnóstico de retinopatia diabética, levando cuidado especializado a populações sem acesso aos serviços mais específicos dos grandes centros.

Contudo, no Brasil, ao se falar de políticas de saúde, estaremos abordando sempre déficits multissetoriais, desde o ponto de vista estrutural até a falta de médicos especialistas. Para pensarmos em utilizar a Teleoftalmologia como forma de ajuda nos rincões desse país, ainda necessitamos resolver problemas básicos de saúde nesse mesmo local, com um programa de saúde da família mais eficaz.

Segundo o Dr. Rafael Leal, especialista em retina pelo Hospital Banco de Olhos de Sorocaba, para que o Brasil obtenha crescimento na área da Teleoftalmologia deve existir em primeiro lugar uma organização estrutural básica dos serviços de saúde da família com gerenciamento adequado do fluxo de pacientes diabéticos para realização de retinografia nas clinicas regionais. Posteriormente essas imagens seriam avaliadas pelo retinólogo (Especialista em Retina), para que então se fizesse a decisão sobre o tratamento mais adequado. Hoje em dia existem alguns retinógrafos portáteis de boa qualidade, que permitem aos médicos realizar o diagnóstico de diversas doenças da retina e de outras regiões do olho.

De fato, com todos benefícios que a tecnologia mobile nos traz,  não há dúvidas em relação a sua aplicação prática para ajudar pacientes que estão distantes dos grandes centros.  Por isso, a Teleoftalmologia no Brasil tem um campo de crescimento enorme, e um alto impacto na saúde das populações rurais. Precisamos apenas integrar o fluxo de atendimento desses pacientes, para que eles consigam chegar na linha final de tratamento com o oftalmologista.

 

 

Dr. José Luciano Monteiro Cunha

Neurologista/Teleneurologia

CEO do SIATE (Sistema Integrado de Atendimento em Telemedicina)